Mulata Exportação

Olá, pessoal. 

Como vão? Tudo bom com todos? Os afazeres e obrigações da vida diária muitas vezes deixam pouco tempo livre para atividades das quais gostamos, como escrever sobre os mais diversos assuntos. Atarefado com compromissos que exigem nossa atenção (com certeza que vocês sabem como é que é), acaba que nem sempre temos tempo para publicar uma postagem aqui no blog. 

Dentre os meus artigos, um que escrevi foi Casa Grande & Senzala -, no qual eu abordava o colonialismo sexual praticado pelos portugueses no Brasil. Na verdade, quando estudam o fenômeno da dominação colonial, os historiadores sempre descrevem vários tipos de colonialismo - econômico, político, militar, religioso, e até mesmo cultural. Todavia, geralmente se esquece da colonização sexual como forma de humilhação de um povo. Mas mesmo aquele texto tratou apenas de uma das modalidades dessa forma de colonialismo, que chegou aos nossos dias pela sua versão moderna, que é o turismo sexual. 


Os ciclos econômicos 

Vocês certamente devem se lembrar dos estudos de História nos livros escolares. O que lhes vem à memória quando se fala em colonização? A primeira ideia que nos vem à mente é o destino histórico ao qual o Brasil foi condenado: sempre roubado, saqueado, rapinado, um país ao qual a Natureza deu riquezas em abundância, riquezas essas levadas embora pelos colonizadores. Esse seria o papel reservado ao nosso país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas sentenciado a ser um eterno exportador de bens naturais. 


                                                                           Fonte: https://www.ecycle.com.br/component/content/article/13-consuma-consciencia/5317-em-30-anos-mata-atlantica-teve-grande-area-regenerada-segundo-ong.html

Diga-se que essa imagem é bastante fiel à realidade. Lembram de quando estudaram os ciclos econômicos? Vamos relembrar? Do século XVI (dezesseis) ao XIX (dezenove), os principais foram: pau-brasil, cana-de-açúcar, pecuária, ouro e diamantes, especiarias do sertão, borracha e café. Antes de prosseguir, é preciso esclarecer que os ciclos econômicos que estudamos na escola se referem ao produto mais importante em cada período; mas de modo algum a um produto único. Por exemplo, o café era o principal produto do Brasil no século XIX; mas é evidente que o país não vivia só disso. 

Outros aspectos também podem ser destacados. Primeiro, que não há manufaturados. Todos são gêneros primários - matérias-primas e produtos agrícolas. Segundo: todos os produtos que fizeram o papel de carro-chefe da nossa economia, desde o Descobrimento até bem depois da Independência, eram destinados à exportação, ao atendimento do mercado externo. 

Mas ora... Será que ninguém tomava um cafezinho no tempo do Império? Tomava sim, assim como um ou outro fidalgo da Colônia consumia açúcar (lembrando que o açúcar era produto muito caro na época, só adquirido pelos ricos). Porém, todos esses produtos tinham finalidade sobretudo exportadora; a maior parte da produção era consumida fora do país, e não dentro.  


Yes, nós temos mulatas!

Vocês sabem como era o açúcar do Brasil Colônia? Era bem diferente do atual. O açúcar dos engenhos era marrom, e adquiria a forma de um torrão; não era branco e fino como o produto refinado de hoje. Com frequência, quando as pessoas leem História, elas ficam com a impressão de se tratar de um passado remoto, que pouco tem a ver com os dias atuais. No Brasil do século XXI (vinte e um), na era do celular e da Internet, a coisa mais normal seria pensar que esse passado colonial foi superado, que ficou para trás o tempo em que a nossa terra fértil produzia frutos para os outros. 

Será mesmo? Gostaria de chamar a atenção para as rotas de tráfico de mulheres que saem do Brasil para o exterior. Observem os lugares de destino do tráfico. Geralmente, são países ocidentais: Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Estados Unidos... Observando-se os países importadores de mulheres brasileiras, encontramos o mesmíssimo trajeto feito por nossas riquezas naturais há mais de 500 anos: do Brasil para Europa e América do Norte (também é o trajeto feito pelo dinheiro da corrupção, que segue direto para os bancos da Suíça). São essas rotas que levam mulheres negras, mulatas e morenas destinadas, digamos, ao atendimento do mercado externo. 



Fonte: https://www.elo7.com.br/africana-de-gesso/dp/C28C55


Então, o tráfico de mulheres pode ser de alguma forma comparado ao histórico saque das nossas riquezas naturais? Àqueles que ficam boquiabertos me vendo fazer uma comparação desse tipo: perda de gente é sempre uma perda de riqueza. Uma queixa que eu fazia na graduação de História na Uerj é que não tínhamos uma disciplina de demografia, nem mesmo como matéria eletiva; e isso faz falta à formação do historiador. Claro, isso não nos impede de buscar esses subsídios por conta própria. 

Por exemplo, o próprio Brasil importou massas populacionais da África por vários séculos, através do tráfico negreiro, verdadeira rede de comércio e transporte que se estendia de lado a lado do Oceano Atlântico. Lamentavelmente, tragicamente, a perda de população pela África não significou, na mesma medida, ganho de população para o Brasil. No livro "1808" (Editora Planeta), o celebrado autor Laurentino Gomes informa, à página 213, que a mortalidade dos negros, no mar ou nos portos de embarque e desembarque, chegava a absurdos 55%. Um verdadeiro desperdício de gente. Traduzindo esse dado, isso significa que a nossa população negra deveria ser o dobro, ou até mais. 

Quer dizer então que, depois de terem rapinado o nosso pau-brasil, o nosso ouro e diamantes, as nossas especiarias do sertão - o cravo, a canela, a pimenta, a baunilha, o cacau, a quina - depois disso tudo, os gringos agora estão nos roubando as mulheres? É.

Normalmente, a origem da venda da mulata como produto de exportação é atribuída ao empresário da noite Oswaldo Sargentelli (aquele do "ziriguidum-telecoteco", lembram?). Talvez haja um certo exagero nisso. Até há pouco tempo atrás era comum ver nas bancas de jornais cartões postais mostrando mulheres com nádegas generosas; esses cartões já não são mais vistos, decerto em função das reclamações dos cidadãos. Ainda assim, quando os navios de turistas chegam ao porto do Rio para o carnaval, a primeira visão que têm do Brasil são as mulatas de escola de samba, que vão recebê-los com muito rebolado (as mulheres alemãs recebem dessa forma os brasileiros que chegam à Alemanha?).  



                                                                              Fonte: https://www.artesanatopassoapassoja.com.br/como-pintar-gesso-artesanato/


Sargentelli chegou a ser acusado de racismo pelo movimento negro (fonte: https://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u22987.shtml). Concordo, em parte, com a liderança do movimento negro. Considero, porém, que o problema não está na sensualização da mulher negra, mas no seu oferecimento para o desfrute de gringos. Afinal, há mulheres louras e ruivas em qualquer revista ou site pornô, e ninguém vê mal nenhum nisso. Aliás, aproveito para deixar claro que minhas objeções nada têm a ver com moralismo. Não tenho nada contra a pornografia, nem a prostituição. Minhas objeções são motivadas unicamente por nacionalismo, e nada mais. 

Até por orgulho nacional, o Brasil devia rever essa imagem de país bundalelê. Veja-se por exemplo o fenômeno Harry Potter. Os brasileiros que têm tempo leem livros que nada têm a ver com a nossa cultura, mas não leem autores como os mulatos Machado de Assis (esse um dos maiores nomes das letras nacionais) e Lima Barreto. Tive o privilégio de ter contato com o talentosíssimo escritor Lima Barreto, mulato e filho de mulatos, através da obra "Triste Fim de Policarpo Quaresma".

Esse livro encantador nos foi passado no programa de Literatura Brasileira II, que fiz como matéria eletiva nos momentos finais do curso de História. A Grã-Bretanha exporta uma vasta produção literária, já desdobrada em produção cinematográfica. E nós, o que temos para oferecer? A bunda da mulata nacional.

A rigor, podemos afirmar com certeza que o tráfico de mulheres não começou no período das atividades do empresário e "mulatólogo" Oswaldo Sargentelli. A magnífica obra "O Rio Antes do Rio" (Rafael Freitas da Silva, Editora Babilônia) esclarece, na página 269, qual foi o marco zero do turismo sexual no Rio de Janeiro: a "mestiçagem" (termo apropriado indevidamente pelos partidários do colonialismo sexual) de mulheres maracajás com portugueses numa feitoria na Guanabara em 1504. Mais adiante, à página 282, o livro denuncia o que foi o primeiro tráfico de mulheres no Rio: índias levadas como escravas numa nau com destino a Lisboa em 1511, para a satisfação de nobres portugueses, "pelo exotismo erótico que provocavam".

Naquele tempo, tráfico de mulheres era complicado. Há 500 anos, a travessia do Atlântico não era fácil, nem simples. Para vir buscar as morenas brasileiras, esse navio português cruzou os 6750 quilômetros de oceano que separam Portugal do Brasil; p'ra chegar aqui era um mês e meio. Como as rotas eram conhecidas, não era raro encontrar piratas no caminho; se tal acontecesse, o confronto era certo. Igualmente comum era encontrar tempestades. Marinheiros morriam de escorbuto, e algumas embarcações afundavam.

Ou seja, não foi o Sargentelli. Claro que, nesse ponto, há mitos mais importantes para derrubar.


A prostituição conjugal 

Via de regra, quando se fala em tráfico de mulheres, a informação que a sociedade recebe é o discurso que chega até nós pelo pessoal do politicamente correto: elas foram iludidas com promessas de emprego no exterior; pensavam que iam limpar, lavar, arrumar, etc., enfim, aquela cantilena que a gente conhece. Lá chegando, descobriram que haviam caído numa armadilha. Ou seja, elas, coitadinhas, viajam enganadas.

É, elas viajam enganadas sim. De certa forma. Claro que uma mulher que embarca numa canoa furada dessas não deve ser lá muito inteligente. Mas só mesmo a abordagem do politicamente correto enxerga nelas - ou quer enxergar - essa ingenuidade toda. Aqui nós entramos no terreno das verdades  proibidas - aquelas que não devem, não podem ser ditas. Não é propriamente verdade que elas "não sabem" que vão se prostituir. Elas sabem sim. Elas são enganadas é nas condições que vão encontrar: recebem promessas mirabolantes, que vão ganhar toneladas de dinheiro, e, chegando ao bordel na Europa, a única coisa que ganham é comida e tapa na cara.



                                Fonte: https://www.elo7.com.br/lista/africana-em-gesso

Machismo meu? Vejamos os seguintes trechos:

"Após trocar Goiânia por Madri, livrar-se de uma quadrilha de cafetões e conseguir trabalho de manicure, a falta de dinheiro a levou a um beco com poucas saídas e ela acabou voltando a se prostituir". 

"Imigrante ilegal na Europa, (...) chegou à Espanha em 2005 com a ajuda de uma quadrilha sabendo que iria exercer a prostituição". 

"O que não sabia era que estaria em regime de semi-escravidão, vigiada 24 horas ao dia e com ameaças de morte". 

Fonte: site G1

Precisa mais? Pois tem, mesmo sem precisar:

" 'Não vou mentir e fingir que virei santa, porque quando aceitei vir para cá, já sabia o que tinha pela frente. Vivi o inferno nesta terra', diz". 

" 'No começo, fiquei 15 dias sem trabalhar (para a quadrilha) porque só chorava e pedia para voltar para o Brasil. Nenhum cliente queria ir comigo por isso. Aí ameaçaram me matar e matar a minha família. Foi tão horrível que depois daquilo perdi o medo, a dignidade, perdi tudo', relata". 

E uma novidade àquelas que pensam em se prostituir por conta própria:

"A lei espanhola permite a prática da prostituição, mas criminaliza a exploração de mulheres e a estadia de imigrantes ilegais. Por isso, se fosse pega na rua, a deportação de Elsa seria imediata". 

Nunca concordei com essa moda de coitadismo que impera na nossa época. O historiador, amador ou profissional, graduado ou graduando, simplesmente não tem o direito de respaldar isso. Posso dar um exemplo pessoal: eu mesmo, como consta no meu perfil, tenho origem indígena. Sou um brasileiro nativo, portanto, e muito me orgulho disso. Como estudioso de História, tenho uma visão muito negativa acerca dos bandeirantes, que cometeram várias atrocidades contra os meus antepassados. Os índios sobreviventes dos massacres eram escravizados.

Fonte: https://hiveminer.com/Tags/africanas%2Cartesanato


Grande parte do público não sabe, mas muitos bandeirantes, a maioria até, eram mestiços de sangue indígena. Isso deveria ser ocultado em nome de um nobre propósito politicamente correto? Meu entendimento é que não. Se é fato, há que se mencionar sim. O historiador pode sim ter posição (por exemplo, pode ter uma visão negativa do bandeirantismo); mas, como guardião da memória, ele é acima de tudo um escravo dos fatos. Da mesma forma, ele pode perfeitamente bem ser um pesquisador seríssimo e ao mesmo tempo um cristão fiel e devoto, o que não o desobriga de falar na Santa Inquisição (uma crítica que eu faço aos historiadores comunistas do Brasil é eles não denunciarem os gulags da União Soviética). Um estudioso do passado que escreve doces mentiras só porque é o que esperam dele as pessoas da sua própria época pode até ter um diploma guardado no armário, mas perdeu o direito de se dizer historiador. Historia magistra vitae, a História é a mestra da vida. 

E como se dá afinal o recrutamento das ditas "vítimas"? Algumas são abordadas em boates e casas noturnas, até mesmo por outras mulheres, para inspirar-lhes mais confiança. Ouvem como elas ganharam dinheiro à vontade, se deram bem, etc., etc. O que elas não sabem: essas mulheres fazem parte da quadrilha.

Outra forma de carimbar o passaporte para a Europa ou a América do Norte é o método adotado pelas brasileiras cata-gringo: aquelas que, à falta de maiores qualidades intelectuais ou profissionais, veem no casamento com um estrangeiro endinheirado o único jeito de subir na vida. Lotada de hotéis de luxo, a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, é celeiro farto para isso.

Há tempos que os mercadores de gente já descobriram esse celeiro também. E não é difícil para eles se infiltrar na multidão de gringos hospedados nos hotéis. Conhecendo bem o interessismo dessas brasileiras, eles não são econômicos nas promessas de casamento e de uma vida melhor lá fora (lógico, quando chega lá é que ela descobre a enrascada em que se meteu). Como as interesseiras não são muito inteligentes, enganá-las é tarefa fácil.

É claro que nesse caso podemos reconhecer facilmente uma prática de prostituição conjugal. Afinal, o sexo por compensação material se chama como? Se a prostituta em questão tem muitos clientes, ou se tem um só, não faz diferença.


O perigo das rotas externas: combatendo a exportação 

Outro fato pouco conhecido do público é exatamente o que não aparece na maioria dos mapas, que são as rotas internas. Fundamentalmente, o tráfico humano é formado por dois tipos de rede: as rotas externas, que levam ao exterior; e as rotas internas, entre os estados. Aqui nós chegamos à parte mais importante desse artigo. Meu entendimento é que é um erro pôr ambos os casos no mesmo patamar. Quero conclamar os brasileiros a que o país concentre forças, prioritariamente, no combate às rotas externas. Mas... por quê? Porque não podemos deixar os gringos nos roubarem as mulheres?

Porque as rotas externas são muito mais perigosas. Posso ilustrar esse raciocínio com um exemplo hipotético. Se uma mulher é aliciada no Rio de Janeiro e levada para o Amazonas, a polícia amazonense deve obrigatoriamente cooperar com a polícia fluminense, e mesmo com instituições como a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário. Por outro lado, se a brasileira se encontra escravizada num país estrangeiro, essa colaboração depende das negociações com um governo soberano, e é a esse governo que caberá a localização e libertação da prisioneira (eu não gosto da palavra "vítima"). Acrescente-se ainda que, sem uma ampla colaboração das autoridades locais, o resgate da prostituta é muito mais difícil, senão impossível (por exemplo, a própria prostituta da história relatada acima só conseguiu fugir graças à ajuda de um cliente).

Outra diferença que se pode ressaltar é que se a dita mulher carioca estiver retida no Amazonas, é mais fácil aos parentes dela cobrar providências da nossa polícia; até mesmo mobilizando a opinião pública nas redes sociais. Contudo, pressionar a polícia espanhola seria muito mais difícil.

Fonte: https://br.pinterest.com/florindafrade/africanas-em-biscuit/


Muito importante também é a questão do desenraizamento. Ao levar a mulher para o exterior, a quadrilha a está tirando da sua própria terra. O desenraizamento é uma forma a mais de constranger, de sujeitar a pessoa, e de quebrar-lhe a vontade. É como se eles dissessem: "Você está longe da sua família, do seu povo e do seu país. Quem está no controle agora é a gente. Você não vai mais sair daqui". É uma estratégia malévola, mas funciona. Geralmente, a prostituta nem fala a língua do país para onde foi levada. Isso sem contar a tática muito inteligente, malignamente inteligente, de instalar os cativeiros no exterior, numa clara tentativa de deixá-los fora do alcance das instituições da República.

Estou longe de ser um especialista em segurança pública, e Deus me livre de querer ensinar o pai-nosso ao vigário. Contudo, os estudos históricos já me ensinaram a importância da distinção entre o secundário e o principal. Todos conhecem muito bem os crimes da Alemanha nazista na Segunda Guerra. Não é preciso ser historiador para saber o mal que foi o nazismo. Mas quase ninguém sabe que a Noruega foi aliada da Alemanha (foi o governo fantoche de Vidkun Quisling, mantido pela ocupação alemã). Teria feito algum sentido negligenciar a Alemanha e centrar fogo na Noruega? E se isso tivesse sido feito, que mundo teríamos hoje?

Insisto: as instituições de segurança pública devem concentrar pessoal e recursos no combate às rotas externas. Nisso tudo, o Congresso Nacional tem uma responsabilidade da qual não pode fugir. Cabe aos congressistas, também eles, se convencerem dessa escala de prioridades, impondo punições mais duras e pesadas ao comércio de gente dirigido para fora do país. Quem quiser fazer essa sugestão ao Congresso, ligue para o Disque-Câmara: 0800 619 619 (ligação gratuita). 


A terra prometida: o Brasil 

Gostaria de chamar a atenção de todos para o depoimento dessa prostituta goiana que foi à Espanha. Ela passou 15 dias chorando e pedindo para voltar para o Brasil. Foi rejeitada até pelos próprios clientes.

Muitas vezes, os brasileiros - de ambos os sexos - têm uma ideia completamente irreal da vida na Europa ou na América do Norte. Esquecem-se de que lá se ganha em euros ou em dólares, mas que também se gasta em euros e dólares. E ainda cabe lembrar o fato muito simples de que mesmo que o país seja rico, isso não significa que as pessoas também o são.

Podemos dar o exemplo dos gigantescos distúrbios de rua que varreram a França em 2005, quando multidões de árabes e africanos protestaram com muita violência. Os prejuízos da França foram enormes: 233 prédios públicos depredados e 10 mil carros incendiados. Mas como isso foi possível? Lá não é bom? O país é rico. Quem está satisfeito com a vida que leva não se revolta, normalmente. A explicação é que pode ser bom para o francês, não necessariamente para o imigrante.

Infelizmente nós fomos premiados com uma classe dirigente corrupta e incompetente. Vai demorar para consertar o estrago que eles fizeram. Dito isso, deve-se dizer também que nós, brasileiros, temos o vício cultural de esperar tudo do governo. Antes de tentar a vida lá fora - fazendo seja lá o que for - procure estudar, se qualificar. Faça cursos, invista na sua formação. Tenha disciplina e paciência. Pegue a trilha mais longa e difícil, mas que é a mais segura. Não tente escolher o caminho mais fácil ou rápido. É lógico que todas essas recomendações valem para os homens também.


Fonte: https://www.comofazerartesanatos.com.br/artesanato-nordestino/


Especialmente a você, brasileira, que pensa em se prostituir no Ocidente (sobretudo se você já é prostituta e acha que lá vai ganhar mais), antes de viajar, experimente ler os seguintes depoimentos:

"O agente disse que era uma pessoa que 'estava envolvida na prostituição' ". 

" 'Está muito chateada, está gritando', disse o funcionário. 'Ela fala um idioma que não entendemos, talvez seja português. Você pode, por favor, vir?' " 

"Yenny, que trabalhava em uma organização não governamental que apoia mulheres latino-americanas no Reino Unido (quer dizer, na Grã-Bretanha), pediu a um parceiro de língua portuguesa que a acompanhasse". 

A escrava era colombiana, que teve a sorte de ser resgatada. Mas pensaram ser brasileira devido à grande quantidade de mulheres brasileiras se prostituindo na Europa. O relato prossegue:

"Quando se aproximaram da mulher na delegacia, seu parceiro disse: 'Não se preocupe, estamos aqui para ajudá-la'. 

" 'Calma, calma. Nós vamos ajudá-la. Não tenha medo', diz Yenny". 

" 'As fotos que vi de como a encontraram foram absolutamente perturbadoras', ele me diz". 

" 'Quando a polícia chegou, eles a encontraram enforcada: foi assim que a estupraram e foi assim que ela abortou. Ela estava sendo estuprada enquanto dava à luz. Ela foi sangrada' ".

" 'Ela foi torturada', diz Aude".

"Lembrei-me de que na última casa onde eles tinham, eu ouvi gritos de mulheres nos outros quartos".   

"Naquela casa, explicou a mulher, seus captores começaram a matar as outras garotas, até que ela foi deixada sozinha. Os homens continuaram a abusar dela, mesmo enquanto ela estava grávida". 

"Mais tarde, conhecendo os detalhes do caso, Aude soube que os vizinhos haviam relatado que ouviram gritos de uma mulher e acreditavam que estavam vindo daquela casa. Mas quando a polícia se aproximou, nada pôde ser ouvido e, quando os policiais bateram na porta, ninguém saiu". 

"No entanto, os gritos persistentes e desesperados da mulher quando ela foi estuprada enquanto estava em trabalho de parto e quando perdeu o bebê foram os que finalmente a levaram a encontrá-la".

" 'Quando a conheci, praticamente não tinha dentes', lembra Aude".  

"A jovem disse que, quando não fazia o que seus captores queriam, arrancavam um dente ou rasgavam seus cabelos". 

"É por isso que ela também tem inchaços no couro cabeludo".  


                                       Fonte: http://artesanatomineirouai.blogspot.com/


"Ela queria (se) parecer (como) quando saiu da Colômbia. Ela me mostrou uma foto e, quando comparada à pessoa na frente, eram duas pessoas totalmente diferentes". 

" 'Lá fora, na porta, há sempre um homem, as janelas estão fechadas e têm grades, a porta do pátio tem grades. Não há como escapar', disseram". 

"Ana viveu assim 'um ano e alguns meses' e quando tentou fugir, foi espancada". 

"Eu não falava inglês, nem sabia que dia era; estava totalmente perdida". 

Ela acabou conseguindo fugir, assim mesmo só porque teve ajuda de uma pessoa do próprio país. A matéria descreve os desdobramentos da fuga:

"Depois de desmaiar, ela foi levada para o hospital. A condição em que a encontraram chamou a atenção de médicos e serviços sociais (...)". 

"Eles me perguntaram por que eu tinha todas essas marcas no meu corpo e não queria contar a eles. Eu estava com medo". 

" 'Quando pergunto por que ela concordou em conversar com a BBC Mundo sobre o que sofreu, ela fixa o olhar em um ponto, leva alguns minutos e responde: 

" 'É que há muito pouca informação em nossos países. As mulheres não imaginam o que pode acontecer com elas. Eu era muito jovem, não sabia de nada, me deixei levar por um sonho, uma ilusão, de escapar da minha realidade". 

Por vezes, os mercadores de gente fazem promessas de casamento. É a prostituição conjugal, o casamento por interesse, que já abordei mais acima. Vejamos os trechos abaixo:

"Imagine: você está no Brasil, Venezuela ou Colômbia, e esse cavalheiro europeu vem e conquista você. Eles se tornam amigos e depois namorados. Mas, assim como ele se apaixona por mim na Venezuela, ele se apaixona por outra no México e outra na Colômbia, por exemplo". 

"E, finalmente, ele diz: 'Meu amor, venha me visitar na Inglaterra, eu pago a passagem'. Quando a mulher chega convidada pelo suposto namorado, ela entra em uma situação de trânsito, na qual elas são forçadas a se prostituir".

"Em muitos casos, a 'queda' desaparece assim que pisam em solo europeu". 

"Mas eu lembro de uma que foi classificada como traficada pela polícia britânica: uma brasileira viajou para Portugal com o namorado português que depois a trouxe para o Reino Unido".

"O homem a entregou a algumas pessoas que a colocaram em uma casa e a forçaram a se prostituir".

" 'Eu não podia acreditar que o homem tivesse feito isso comigo. Ele veio à minha cidade, conheceu minha família, meus pais', disse a jovem a Aude". 

Namorado português, é?... Santa ingenuidade...

A fonte da reportagem é o site BBC Mundo (https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-39118432). A matéria prossegue com casos escabrosos. Como a de uma garota equatoriana que, chegando à Europa aos 16 anos, foi prontamente escravizada. Após sofrer dois abortos (decerto depois de engravidar de britânicos), tornou-se imprestável para os programas sexuais e passou a ser usada no transporte de drogas. É frequente ambas as atividades caminharem juntas. Presa com entorpecentes, foi parar na cadeia. Quando a acharam, ela já estava com 35 anos (e certamente aparentava mais). Perdeu toda a sua mocidade num presídio longe de casa e da sua terra natal, no Equador.



                         Fonte: http://galeriabrasiliana.com.br/galeria2017/zezinha/


Uma palavra final 

Como eu disse mais acima, a maior riqueza de um país não são produtos primários. A maior riqueza é gente - e quanto mais qualificada melhor.

Outra recomendação: limpe e arrume a sua casa. Não a deixe bagunçada. Isso faz diferença sim. Depois de um dia inteiro batendo perna na rua atrás de emprego você precisa ter um certo prazer em voltar para casa. A casa "esculachada" passa a sensação de um ambiente deprimido, e mais deprimido você vai ficar.

Se porventura você tomar conhecimento de alguma gangue de tráfico humano internacional em atividade, mande um e-mail, sem se identificar, para a Polícia Civil ou a Polícia Federal. Mas sob nenhuma hipótese tente se envolver diretamente. Não tenha ilusões: essa gente é muito, muito esperta. A única ingenuidade das brasileiras interesseiras foi elas terem se achado mais espertas que essas quadrilhas.

Vale ainda destacar a carga de humilhação contida em toda essa situação. Por mais comparações que se façam com o saque das nossas riquezas naturais, o Brasil ser convertido em exportador de prostitutas para a satisfação sexual dos ocidentais é algo ultrajante para qualquer brasileiro, é uma afronta à Pátria. Essas máfias estão tratando a nossa nação como um curral de mulheres.

Finalmente, eu não poderia fechar esse texto sem esclarecer um ponto muito importante. Defender que as pessoas só se relacionem dentro da sua própria nacionalidade nunca foi o propósito desse artigo. Isso seria fazer uma defesa da endogamia - o que aliás nem é do meu agrado. Falando resumidamente, em História e Antropologia endogamia é o sexo, com ou sem matrimônio, entre pessoas da mesma origem. Exogamia, ao contrário, se dá quando ambas são de origens diversas, ou seja, de etnias ou nações diferentes. É o que o público popularmente chama de miscigenação.

Com o desenvolvimento das comunicações e dos transportes na nossa civilização global, a endogamia obrigatória vem caindo em desuso. Essa prática restritiva só pode ser encontrada em pouquíssimos povos tradicionais, ou em populações pré-agrícolas no passado histórico do mundo, na era anterior aos Descobrimentos. A rigor, o único povo endogâmico da nossa época são os judeus (https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2018/11/21/casamento-entre-pessoas-de-religioes-distintas-volta-ao-debate-em-israel.htm).

Dito isso, lembremos que quase não se vê mulheres brasileiras mantendo relações saudáveis e desinteressadas com paraguaios, bolivianos ou haitianos. A brasileira demonstra nítida preferência pelo homem ocidental: o canadense, o americano, o europeu. É impossível acreditar que o fator econômico não pesa nessa decisão.

Aí embaixo eu anexei um vídeo para vocês assistirem.

Ah, sim... Ainda ficou faltando um recado final, aquele que eu queria endereçar aos gringos, ao menos os que sabem ler em português:

As mulheres negras, mulatas e morenas são nossas!!!!... E vocês vão é pra #$%&+>@<!!!!...

Um forte e caloroso abraço, pessoal. Muito obrigado a todos. E viva o Brasil.

O Tamoio.


Leia também

"Casa Grande & Senzala":
https://aldeiakarioka.blogspot.com/2020/02/casa-grande-senzala.html




Comentários

  1. As expressões "mulata exportação" e "yes, nós temos mulata" remetem a um dos mais terríveis tratamento que se pode dar a um ser humano! Farão parte da vergonha eterna do Brasil até que possamos de alguma forma apagar essa história e compensar esse povo pelos horrores que sofreram embora eu acredite que isso jamais será possível!

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    1. Concordo, Arthur. Peço desculpas por ter demorado a respondê-lo, mas estava ocupado com uns afazeres. Na verdade, usei essas expressões como ironia, para mostrar como os brasileiros pensam - especialmente os que são cúmplices dessa situação, os que com ela lucram. De fato, tive o objetivo de chocar, mas com bons propósitos, de fazer as pessoas pensarem. Se uma única brasileira deixar de ir para o exterior por causa do meu artigo, o trabalho que tive terá valido a pena. Abraços!

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